Pedro, embora possa não parecer, estou a fazer isto não por obrigação mas porque já há algum tempo que precisava de o fazer. Talvez me faltasse a coragem e agora tenha apenas o pretexto que há muito esperava. Mas não o estou a fazer por arrependimento e muito menos para que o passado volte, pois isso seria pedir demais, seria pedir que as nosss atitudes sinceras e por vezes dramáticas mudassem, e seria pedir que continuasses do meu lado como há muito já o estiveste. Isso seria mudar o passado, o presente e até o futuro pois neste momento se continuasses a meu lado muitas outras pessoas não poderiam estar, tal como estão agora. A escolha que tive de fazer não foi de facto a que me trouxe mais felicidade, mas foi a que me proporcionou a estabilidade que hoje tenho. E não, não quero que o passado volte porque a felicidade a certa altura estaria em causa, tal como sabes. Não censuro as tuas decisões, as tuas acções e muito menos as minhas, tenho apenas a agradecer-te. Agradecer-te por aquilo em que me fizeste acordar, agradecer-te por me fazeres ser quem sou hoje, agredecer por todos os momentos em que me senti feliz e acima de tudo protegida a teu lado, agradecer-te pelo que me ensinaste sobre a vida, por me teres feito ver que o mundo afinal não era assim tão cor-de-rosa e tão perfeito como eu o imaginava, como eu o conhecia até me abrires os olhos para a realidade deste cruel e dificil mundo.
Agradeço-te o facto de teres feito de mim uma MULHER, o facto de depois de tudo nunca teres desistido de mim como pessoa e o facto de me teres mostrado uma imensidão de sentimentos que até ai eu desconhecia. Agradeço-te até o facto de me ignorares depois de me dares cinco minutos da tua boa-disposição, pois não me deixas pensar no passado muito tempo.

Ensinaste-me aquilo que se aprende na primária: o verdadeiro significado das palavras, ensinaste-me a construir frases, a dizer as palavras mais dificeis. Não te esqueceste de colocar objectos à minha frente para eu superar, porque nem sempre iria ter alguém como tu a ensinar-me o caminho, alguém que me mostrasse como encontrar a palavra felicidade. Tu sim, tiveste paciência, ensinaste-me o alfabeto e até que a palavra felicidade começava por um “F”. No dicionário era pela primeira letra de cada palavra que se procurava e tu ensinaste-me isso. Posso dizer que sim, contigo encontrei essa e muitas outras palavras, construi frases e hoje já consigo redigir textos. Nunca o teria conseguido sem ti.
Talvez esteja a ser subjectiva demais, talvez estejas a pansar que nunca vimos um dicionário da Língua Portuguesa juntos, sim talvez. Mas o dicionário da vida, do amor, do companheirismo, das adversidades, esse eu aprendi ou pelo menos fui aprendendo contigo.
Agradeço-te no entanto teres tido a paciência de por uns tempos achares que era possível; ou pelos menos de me teres feito acreditar nisso.
Aquilo por que passamos é necessariamente passado e sinceramente custa falar sobre isto e pensar que já nada voltará ao que era, que eu já não poderei vir a aprender todas aquelas coisas que hoje já fazem parte de mim. Agora acho que me perdi no meio das palavras, das lágrimas, das memórias e dos pensamentos, talvez mesmo das saudades, dos abraços apertados que ainda consigo sentir e das juras nos olhos. Embora eu saiba que para ti as coisas levaram um rumo normal, queria-te apenas fazer saber que para mim não; que apesar de tudo o que aconteceu, de estarmos afastados, de mal nos falarmos, a marca do ensinamento, da glória, do triunfo de poder dizer “consegui” com o maior sorriso nos lábios, essa vitória é tua e ninguém ta pode tirar, pois fosste tu quem me conseguiu dar tudo isto.
Os erros, esses vieram depois e talve por isso, agora para mim seja tão dificil expressar aquilo que sinto e principalmente que já senti, seria mais fácil escondê-lo como tinha feito até agora.
No meio de desabafos esqueci-me apenas de dizer uma palavra “OBRIGADA !”. E obrigada porquê? Por me teres feito perceber o mundo em que vivia, por me teres salvo dos perigos dificeis da vida e acima de tudo por me teres ensinado a crescer.


Filipa Sousa.